domingo, 9 de março de 2014

É neta de...

Viver numa pequena cidade dá-nos o prazer de conhecer toda a gente, de dizer bons-dias em todo o lado, de olhar os rostos, de saber quem são mesmo sem conhecer.
Onde quer que vá há sempre alguém que me conhece e há sempre alguém que pergunta de quem sou neta.
"Ser neta de..." é um misto de não ser quem sou, mas de ser de alguém que conhecem.
O "ser neta de..." tiramos personalidade. Ficamos a ser conhecidos por quem são os nossos avós, mas não porque somos nós.
Até nos caracterizam de bons ou maus pelos nossos. Dizem "se fores como...". 
Acabamos por pensar que não  podemos ir a lado nenhum, que não podemos fazer nada e que tudo o que fazemos vai ser cotado como "foi a neta de...".
Mas, o "ser neta de..." dá-nos dimensão. As pessoas conhecem-nos, recebem-nos, percebem de quem somos.
Sentimos logo que aqueles que sabem de quem somos netos nos conhecem. Acabando por metermos conversa, ouvindo histórias antigas e criando laços.
Nós, os netos, sentimos orgulho quando nos dizem "ai é neta de tal.. que é tal..." e sentimos que gostam de nós só por sermos netos. 
Nós, os netos, podemos até nós sentir despersonalizados, mas sentimos parte de algo.
Parte da Cidade, da Rua, da Vizinhança, dos Avós, das Avós, da Vida.
Nós, os netos, sentimos que somos um Pedaço dos Avós.

sábado, 8 de março de 2014

Carnaval para a Avó é um baú de recordações

O Carnaval para a Avó é um baú de recordações. Um misto de sentimentos. 
Um recordar de juventude, de momentos.
Histórias e mais histórias contadas e por contar.
A Avó já não se mascara. Já não sai para ir ver o Carnaval.
A Avó conta histórias e relembra momentos.
Sorri e diverte-se.
Contou-me que se mascarava todos os anos para ir trabalhar e que um ano sem saber improvisou um fato.
"Calcei uns sapatos do teu pai", disse-me contente. E vestiu uma samarra, pôs um chapéu de palha, pegou num saco de tecido e foi com os pés tortos - o direito no esquerdo e o esquerdo no direito.
A Avó gosta do Carnaval. Gosta da folia.
Gosta de me ver mascarada e gosta de ver outras.
Sempre me falou sobre o desfile em que me levou quando era pequenina.
A minha Avó também gosta das habituais partidas. Lembro-me das que fazíamos juntas ao meu Avô. Uma vez fingimos que a Avó se tinha cortado e outras vezes só o enganávamos a dizer que não havia jantar ou que não dava o Preço Certo.
Éramos sempre convincentes, mas o Avô desconfia ao fim de um certo tempo. E depois quando se apercebia ria-se todo contente.
Também me lembro das fantasias que a Avó me comprava, de pirata, de nazarena com 7 saias. 
E ainda mais do vestido de sevilhana que me fez, era vermelho com bolinhas pretas, folhos em baixo, justo em cima e mais largo na base. No dia em que o usei, apanharam-me o cabelo e enrolaram-o atrás e puseram-me uma flor, pintaram-me a cara e lá fui eu orgulhosa e feliz ver o desfile na terra mais próxima. O orgulho de estar a encarnar uma bailarina era imenso, ainda para mais num fato lindo e feito por ela.
A Avó diz que o Carnaval é o que a vida deve ser, porque passa a correr mas é sinónimo de diversão.
O Carnaval é viver a vida ao máximo e é isso que diz a minha Avó.