domingo, 9 de março de 2014

É neta de...

Viver numa pequena cidade dá-nos o prazer de conhecer toda a gente, de dizer bons-dias em todo o lado, de olhar os rostos, de saber quem são mesmo sem conhecer.
Onde quer que vá há sempre alguém que me conhece e há sempre alguém que pergunta de quem sou neta.
"Ser neta de..." é um misto de não ser quem sou, mas de ser de alguém que conhecem.
O "ser neta de..." tiramos personalidade. Ficamos a ser conhecidos por quem são os nossos avós, mas não porque somos nós.
Até nos caracterizam de bons ou maus pelos nossos. Dizem "se fores como...". 
Acabamos por pensar que não  podemos ir a lado nenhum, que não podemos fazer nada e que tudo o que fazemos vai ser cotado como "foi a neta de...".
Mas, o "ser neta de..." dá-nos dimensão. As pessoas conhecem-nos, recebem-nos, percebem de quem somos.
Sentimos logo que aqueles que sabem de quem somos netos nos conhecem. Acabando por metermos conversa, ouvindo histórias antigas e criando laços.
Nós, os netos, sentimos orgulho quando nos dizem "ai é neta de tal.. que é tal..." e sentimos que gostam de nós só por sermos netos. 
Nós, os netos, podemos até nós sentir despersonalizados, mas sentimos parte de algo.
Parte da Cidade, da Rua, da Vizinhança, dos Avós, das Avós, da Vida.
Nós, os netos, sentimos que somos um Pedaço dos Avós.

Sem comentários:

Enviar um comentário